O Alto Custo de um Sistema Agrícola Falido

Eng. Agr. José Luiz Moreira Garcia, M.Sc.*                 

“Uma nação que destrói o seu solo destrói a sí mesma “

Franklin D. Roosevelt ( 1937)

A tecnologia agrícola utilizada nos ultimos 100 anos é baseada em teorias inválidas pelo simples fato de que as mesmas não funcionam na vida real. Se elas fossem de fato válidas nós não teríamos córregos, lagos e rios poluídos, aquíferos subterraneos poluídos por nitratos e outros contaminantes, solos poluídos e degradados, alimentos contaminados, seres humanos e animais contaminados e com saúde deficiente que se tornaram cada vez mais dependentes de remédios e produtos farmacêuticos  que fazem a fortuna de mega laboratórios farmacêuticos multinacionais, além de um crescente número de agricultores que são levados a ruína econômica perdendo o seus bens de raíz acumulados na maioria das vezes ao longo de várias gerações de trabalho arduo.

Fatos são fatos. Contra fatos não há argumentos.

O atual modêlo agrícola utilizado no ocidente é o responsável direto pela crescente destruição da camada de solo arável ( solo agrícola ) , sendo que, nos EUA que é a meca do sistema e onde existem felismente estatísticas, a perda de solo agrícola foi de 50% nos últimos 100 anos de acôrdo com o Minnesota Land Magazine de 3 de maio de 1985.

Fatos são fatos. Essa é a realidade.

A destruição do meio ambiente é um fato concreto e ela é provocada em grande parte pelo atual modêlo agrícola. Voces por acaso já imaginaram para que finalidade são sintetizados os produtos  químicos mais venenosos ? Que tal : Para a agricultura !

Quanto da poluição industrial  é resultante da poluição industrial  relacionada com a agricultura ? E que tal o consumo de energia dessa mesma agricultura ? A agricultura é a segunda maior consumidora de energia nos EUA. Quem estabelece nossas prioridades ?

Quando o solo degenera as plantas que crescem nele tambem se degeneram, assim como a saúde das pessoas que se alimentam dessas mesmas plantas. Isso cria uma demanda maior para a produção e a venda de produtos destinados a combater os sintomas originados por um solo degradado e doente. Existem produtos químicos para remediar solos degradados

( adubos químicos, fumigantes de solo ), produtos químicos para combater os sintomas de um vegetal fraco e desnutrido ( fungicidas, inseticidas, bactericidas, acaricidas, nematicidas, etc..) , produtos químicos para combater os efeitos de um solo desiquilibrado

( herbicidas ) e finalmente produtos químicos que são usados pelos médicos e farmacêuticos em seres humanos e animais para remediar toda essa situação criada na realidade por solos degradados e doentes.

O resultado imediato é o lucro financeiro porem o resultado a longo prazo é a inexorável falência de todo esse sistem insustentável. Na sua edição de setembro de 1984,

 a conceituada publicação New Scientist  afirmava que entre 1960 e 1979 os agricultores da antiga Checoslovaquia triplicaram o uso de fertilizantes químicos enquanto que a produção somente aumentou em 52%. O solo foi afetado e agora as safras estão diminuindo sem que houvesse diminuição da utilização de fertilizantes. Essa “tecnologia de ponta” foi exportada para aquele país pelos EUA . Essa mesma tecnologia foi e ainda é utilizada no Brasil em quase todo o seu sistema de ensino, pesquisa e extensão agrícolas com raríssimas e louvaveis exceções. O famoso “tripé” ( pesquisa , ensino e extensão ) no qual se apoia todo o nosso modêlo agrícola foi importado dos EUA e empurrado goela abaixo de nossos produtores agrícolas como sendo verdadeiro. Orville Wright enfoca essa situação da seguinte maneira : “Se todos nós trabalharmos com a suposição de que o que é aceito como verdadeiro é, de fato, verdadeiro, existiria  muito pouca esperança para algum tipo de avanço”.

Nos últimos 50 anos a utilização de agrotóxicos na agricultura aumentou mais de 10 vezes enquanto que as perdas provocadas por pragas, insetos e mato aumentaram  de 6% para 13% (2,3 ).

O que significam esses dados ?  Significam exatamente que o sistema não está funcionando

posto que está baseado em uma pseudo-ciência que parte de premissas falsas, apesar dos arautos do apocalipse de plantão, entre os quais destacam-se alguns expoentes tanto do govêrno quanto da pesquisa oficial, estarem a aterrorizar a população com o espectro da fome. Hoje, sabemos ser a fome mais um problema político e financeiro do que tecnológico. Essa opinião tambem já foi expressa  por um diretor de uma poderosa empresa de biotecnologia. Ou seja, eles tambem já sabem disso. Os únicos que ainda não sabem ou fingem não saber são os nossos políticos e tecnocratas.

A mídia de aluguel, o Ministério da Saúde e vários outros setores da saúde querem nos fazer crêr que a saúde humana e a longevidade estão aumentando nas ultimas décadas. Porem, isso não é exatamente o que demonstram as estatísticas. O prestigioso New England Journal of Medicine, com bases em estatísticas compiladaspelo U.S. Department of Commerce, Bureau of Census , demonstra que durante um período pesquisado de 24 anos não houve aumento significativo na taxa de sobrevivência para pacientes acometidos de cancêr. Hoje, nos EUA , uma pessoa em cada tres são acometidos por cancêr em comparação a uma pessoa em cada dez pessoas de decadas atraz . O cancêr é um negócio de mais de 90 bilhões de dólares por ano somente nos EUA e cresce a cada ano. Não existe vontade política de se resolver realmente o problema do cancêr. Em países do terceiro mundo, no qual o Brasil se inclui, isso é até aproveitado com intenções muitas vezes políticas com a distribuição dos chamados medicamentos ditos “gratuitos” . Nunca um neologismo custou tão caro a toda a sociedade.

O tratamento do cancêr é um negócio multi bilionário, porem não a cura do cancêr ou a sua erradicação. Uma eventual cura do cancêr significaria a ruína financeira de toda uma industria multibilionária voltada para o “tratamento” do cancêr. Somente nos EUA essa industria emprega mais de 200 mil pessoas.

O declínio da saúde da população ocorre em paralelo com o declínio da fertilidade dos solos e do aumento da agricultura quimicalizada. Existe, de fato, uma relação muito estreita entre agricultura e saúde humana . Uma relação que infelismente os nossos dirigentes politicos se recusam a enxergar. Essa estreita relação já foi amplamente abordada por outros autores ( 2,3,5,6,9 e 11).

Nada existe por acaso. Boa saúde não é obra do acaso. Ela é um fenômeno natural !

Quanto custa a sociedade a reparação desses erros ? Quanto custa a sociedade o tratamento de um paciente acometido de cancêr ?

A infame “Revolução Verde” levou a falência todo um sistema agrícola senão finaceiramente pelo menos ecologicamente falando. Os produtores agrícolas foram iludidos e enganados com pensamentos emanados pelo status quo acadêmico-científico agrícola, de que poderiam resolver os seus problemas com agrotóxicos e fertilizantes químicos. Hoje, sabe-se que a revolução somente foi verde para a indústria de insumos agrícolas petroquímicos.

Intoxicação generalizada por agrotóxicos que mimetizam hormônios ( que se encaixam nos receptores hormonais celulares ) em níveis aparentemente baixos mas que são muitas vezes acima dos níveis máximos tolerados pelos sêres humanos, principalmente as mulheres, gerando uma onda crescente de diversos tipos de cancêr como cancêr de mama, cancêr de próstata, cancêr linfático entre outros.

 A aflatoxina é uma ameaça real e permanente. Foi verificado um nível cada vez maior de aflatoxina em produtos cultivados pelo sistema convencional além de uma maior quantidade de energia necessaria para a secagem dos grãos que não conseguiam atingir a maturação plena em virtude da excesiva manipulação genética aliada a fertilização químicalizada que tende a entupir os vasos das plantas dificultando a secagem ( 12 ).

Alimentos com teores de proteína não-funcionais elevados são fruto dessa pseudo-ciência e tecnologias agrícolas. Os experimentos agrícolas sempre são avaliados pelo peso final das

parcelas que se traduz em toneladas /hectare e quando muito pelo teor de “proteína”, que na maioria das vezes é apenas o teor de nitrogênio multiplicado pelo fator 6.24 para se ter uma idéia aproximada do teor de proteína. Porém esse nitrogênio nem sempre é proteico e nem

sempre essas proteinas são funcionais, isto é, adequadamente utilizadas pelo nosso organismo. Raríssimas vezes são feitos testes de avaliação nutricional desses produtos com

“elevados” teores de “proteína “ ( 14 ). Os vegetais cultivados pelo sistema convencional produzem um tipo anomalo de proteína não funcional conhecido for “funny protein” ( 2 ).

A desnutrição de homens e animais é generalizada. Inúmeros autores ( 3, 5, 6, e 9 ) são da opinião que cada doença tem um  componente nutricional em maior ou menor escala. Aborto, retardamento mental, colesterol elevado, problemas circulatórios e cardíacos, problemas neurológicos ( Alzheimar, Mal de Parkinson, etc...), defeitos genéticos, hiperatividade infantil ( Sindrome do Deficit de Atenção ), Diabetes, enfim uma infinidade de doenças tem a sua origem no ambiente e no componente nutricional.

Em 1958, o Professor Emérito de Agronomia, Dr. William A. Albrecht, Ph.D., do Departamento de Solos da Universidade do Missouri relatava : “Nos últimos 40 anos amostras de solo do mundo todo foram estudadas e estabeleceu-se uma média de produção de proteína viável de 12%, sendo que o mínimo necessário para a saúde humana e animal seria de 25% de proteína viável. Nos EUA as amostras não tinham média de 25%, nem de 12%, mas de 6%”. No início dos anos 70 o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA)

liberou dados mostrando que os solos americanos tinham um fator para a produção de proteína viável de 1,5 a 3% ( Biomedical Critique, vol. 5. No. 6, Biomedical Health Foundation, Ocala, Fl, Sept. 1984 ) . Esses dados são uma demonstração cabal da falência do sistema. Os solos simplesmente não são mais capazes de possibilitar uma produção necessária a manutenção da saúde humana e animal.

Acidos graxos na forma isomérica “Trans” que favorecem as doenças degenerativas por serem altamente imunodepresivos são sem dúvida outra contribuição da  “moderna “ tecnologia agrícola de alimentos.

Fertilizantes Fosfatados  solúveis com resíduos de flúor , elemento altamente reativo e tóxico, que as plantas transformam em acetato de flúor , um composto altamente tóxico, são, por suposto outra contribuição da chamada “ciência”dos solos ( 1 ) . Esse elemento tem sido implicado no crescente aumento de casos de Diabetes . ( 1 )

Enfim, o emprego do chamado enfoque “reducionista” pelos pesquisadores agrícolas, no qual tentam explicar o todo pela analises das suas mínimas partes gerou todo esse estado de coisas. A Natureza é bem mais complexa e não pode ser explicada por nenhum pensamento

linear reducionista ( 2,3, 7 ).

O sistema atual continua tentando nos fazer crer que podemos consertar qualquer coisa que esteja errada. Eles agora resolveram “melhorar” o trabalho divino, deverto por acharem que Deus não fez um bom trabalho. Os vegetais estão sendo manipulados geneticamente para seram resistentes a doenças e pragas. O que podemos esperar de tais vegetais manipulados geneticamente ? Os efeitos a longo prazo somente o tempo irá responder porem uma coisa já é certa. Sabemos que o ataque de doenças e pragas estão diretamente relacionados a saúde dos vegetais. Isso já não é mais teoria . Já existe ampla comprovação científica desse

fato. O papel dos insetos na Natureza foi inteligentemente desvendado pelo brilhante cientísta Dr. Phillip Callahan, Ph.D., que trabalhou no U.S.D.A. e Universidade da Flórida.

Os insetos funcionam como verdadeiros “sanitaristas” eliminando vegetais fracos e doentes

e nos poupando de consumir alimentos de inferior qualidade. Na verdade os insetos estariam nos prestando um grande favor ( 10, 14 ).

Dr. Callahan afirma que “nenhum método de controle irá funcionar enquanto safras envenenadas continuarem a emanar etanol e amônia em pequenas partes por milhão. Esses dois sub produtos da fermentação são a marca registrada de organismos agonizantes  e servem como atrativo para todos os insetos que se alimentam de plantas “ ( 13 ).

Dessa forma, plantas carentes de nutrientes é o que podemos esperar dessas manipulações genéticas e consequentemente, mais doenças e desnutrição.

A única maneira de reverter esse quadro sombrio da atual agricultura é via reconstrução dos solos agrícolas. Infelismente não existem soluções rápidas ou mágicas. Reconstruir os solos via micro vida do solo com adequada remineralização e aumento da fração humica ativa por intermédio das diversas práticas agrícolas auto-sustentáveis. O movimento de Agricultura Ecológica e/ou Orgânica é o embrião dessas novas mudanças. Essa é , de fato, a nova mudança. Essas são de fato, as novas tecnologias a serem adotadas. Por conceitos antigos devemos enter justamente aqueles que prevaleceram pelos ultimos 100 anos e não conseguiram resolver os problemas.

O primeiro estágio para que se efetue uma mudança é a divulgação de conceitos novos, já que os antigos não resolveram os problemas, e da adoção de um conceito holístico para entender-mos a realidade ao invés de um enfoque reducionista para o estudo dos fenômenos naturais. Que novas tecnologias, de ordem prática, foram geradas pelas pesquisas milionárias de sequenciamento genético no nosso país . Sequenciou-se o “amarelinho” da laranja e eu pergunto:  E daí ? Gastou-se milhões de dólares . Para  que ?

Podemos esperar cada vez mais oposição as novas idéias e mudanças quando o sistema se sentir prejudicado. Aliás já foi identificada uma campanha a nível mundial custeada pelas multinacionais interessadas na regularização dos transgênicos onde se procura difamar a Agricultura Orgânica.

O sistema está agonizante mais dispõe de recursos e irá reagir. Entretanto, existe uma saída.

“Pedi e Recebereis. Procurai e Achareis “ como diz a Biblia.

A verdade é bem simples. A mentira e a falsidade são muito complicadas.

*    O autor é ainda Produtor Orgânico Certificado , Consultor  e

      candidato a PhD em Medicina Natural .

Bibliografia

1. Acres USA. A Voice for Eco-Agriculture, vol. 30, No.7, 2000.

2. Andersen, Arden A.Ph.D. Science in Agriculture, Acres USA, 376 pgs, 2000.

3. Andersen, Arden A.Ph.D. The Anatomy of Life & Energy in Agriculture, Acres USA,

    115pgs,1989.

4. Callahan, Philip S. Paramagnetism. Acres USA , 128 pgs, 1995.

5. Garcia, José Luiz M. A Desmineralização crescente dos solos como fator determinante

    do aumento da incidência das doenças degenerativas, 1o. Simpósio sobre Agricultura

    Ecológica e Saúde Humana, Rio de Janeiro, Junho, 2000.

6. Jensen, Bernard & Mark Anderson.. Empty Harvest, Avery Publishing Group, Inc.,

    188 pgs, 1989.

7. Jesus, Eli Lino. Histórico e Filosofia da Ciência do Solo : Longa Caminhada doReducio- 

    nismo a Abordagem Holística. Alternativas, Cadernos de Agroecologia, Solos 4, 64- 

    75, Julho, 1996.

8. Kinsey, Neal.Hands-On-Agronomy, Acres USA, 352 pgs, 1999.

9. Schroeder, Henry A.M.D. The Trace Elements and Man, The Devin-Adair Co., 180 pgs,   

    1973.

10. Smillie, Joe & Grace Gershuny. The Soul of the Soil,, Chelsea Green Publishing Co.,

      173 pgs, 1999.

11. Voisin, André.Soil, Grass & Cancer, Acres USA (re-edição), 370 pgs,1999.

12. Walter, Charles & C.J. Fenzau. Eco-Farm, Acres USA, 447 pgs, 1996.

13. Wheller, Philip A. & Ronald B. Ward. The Non- Toxic Farm Handbook, Acres USA,   

      238 pgs., 1998.

14. Zimmer, Gary. The Biological Farmer, Acres USA, 352 pgs, 2000.